domingo, agosto 07, 2005

Verena^Å^

MORTE VIRTUAL

Um belo dia eles somem!
Percorremos nossos olhos pelo Outlook e nada!
Onde estão?
Aquelas mensagens lindas, alegres e até engraçadas?
Onde foi parar vc: "fron"?
Por que se foi?
Eu não o deletei!
Não bloqueei!
Que motivo lhe demos?
Que motivo ele teve?
Começamos a nos consolar com as suposições:
O pc está com defeito, teve que formatar, e ai perdeu tudo!
Quem sabe viajou?
Ou quem sabe está com a vida corrida?
A namorada tá com ciúmes, o marido reclamou?
Mas...
E se estiver doente??
Deprimido??
Sem grana para pagar a Internet?
Com dificuldade de digitar, quem sabe artrite?
Será que roubaram o computador dele?
Onde está nosso amigo virtual??
Para onde foi??
Ai vem o pânico...
Onde ele mora?
Sei que estava aqui dentro...
Cadê????
Mas...
Em verdade ele existe de fato e de direito,
Tem endereço, CPF, tipo sanguíneo, DNA, telefone, etc...
Pôxa!!Por que não peguei o número??
Onde vou achá-lo, neste universo imenso da net??
Será que voltará um dia??
Ou se foi para sempre??
Ai vem a raiva...
Vou bloquear o e-mail dele!
Tá pensando o quê??
Que coisa!!Não fiz nada!
É um ingrato!!Nunca me considerou!
Depois vem a mágoa...
Lhe ofereci tanto e...
Foi sem nem se despedir.
Cadê?
Pois é, gente...
Somos impotentes diante da imensidão e do anonimato da net!
Temos que acreditar no que se diz aqui,
Temos que imaginar quem é o outro do outro lado.
Ou melhor, não imaginar....
Temos que manter os laços de uma fita que não é de seda
E sim de chita, escorregadia, bem fina, bem frágil.
Claro que tem aqueles que se apresentam e mandam dados.
Temos que confiar,
Se for um maníaco!
Céus!
Será que é quem diz?
Mas em verdade, a maioria, quem são??
Onde encontrá-los?
Dentro da fragilidade da pontuação,
cada um lê o que quer ou que lhe parece.
Quantas vezes dizemos olá!!!! E lêem Olá!
Temos então que explorar bem o teclado!!!!!!!
Quantas vezes nossas intenções são lidas de maneira diferente,
À mercê do humor e da pontuação de quem está do outro lado??
Inúmeras, todas!!
Já pararam para pensar:
Eles vem e vão de nossas caixas de mensagens,
E nós entramos e saímos de suas listas de e-mails.
Quantos morreram e não sabemos?
Quantos digitam piadas com os olhos embaçados de lágrimas!
Quantos retratos mentirosos...
Quantas verdades nas entrelinhas...
Não podemos saber, não vemos de fato.
Mas podemos ter a sensibilidade da sintonia humana,
A fé no semelhante, a inocência pretendida,
Podemos sentir quando se vão, e quando não nos querem mais?
Podemos sim, tratá-los com o respeito que merecem,
Respondendo todas as sua perguntas,
Mandando todas as mensagens,
Repassando todos os seus créditos,
considerando-os do bem.
Para que um dia , quando não estiverem mais aqui,
se tenha só saudade, e não mágoa e raiva.
Porque esta é a frágil ligação virtual,
as vezes e muitas vezes tão realmente importante
para fazer o dia de alguém, melhor.
Mas que,quando nos deparamos com a realidade
de que os fatos são virtualmente frágeis...
E que esses que se foram de nossa telinha podem nunca mais retornar...
Conhecemos enfim, a morte virtual.
Para ela só resta o luto de uma simples, mas sincera ,
poesia in memorian ,
por uma perda sentida e virtualmente real...

(Texto de Augusta Melo)