segunda-feira, janeiro 01, 2007

Um pedacinho de Salvador

IGREJA DA BOA VIAGEM

Em 19 de novembro de 1710, Dª LOURENÇA MARIA, proprietária das terras de Itapagipe de baixo e que tinha como filha Ana Pereira de Negreiros, doou, através escritura, aos Franciscanos da Bahia, uma grande área de terra.
Como recompensa pela doação, Dª LOURENÇA MARIA exigiu da Ordem Franciscana a celebração de cinco missas anuais, sendo três para si e 2 para sua filha Ana Pereira de Negreiros.
A Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem é uma primorosa jóia da arquitetura colonial-religiosa, incrustada na bela península itapagipana, há poucos metros do mar da Baía de Todos os Santos, no aprazível bairro da Boa Viagem, mais precisamente no Largo da Boa Viagem. A igreja no estilo barroco português, foi implantada por volta de 1712 (século XVIII), emprestando ao templo apreciável forma de rara beleza arquitetônica, conservada originalmente até os nossos dias.
Em sua fachada, toda revestida de azulejos pérola nacarados, de origem portuguesa, destacam-se imponentes pilares em pedra (lajões) e em seu frontispício, belíssimo painel em azulejos azuis trabalhados com as Armas do Reino. Vê-se ainda, ao centro, uma grande porta (principal) de jacarandá, com almofadas em alto relevo, encimada por três janelas de guilhotina simetricamente dispostas e que dão luz e ventilação para a parte interna e superior da Igreja, onde está localizado o Coro. Possui uma única torre que termina em forma piramidal, situada ao seu lado esquerdo, revestida de azulejos portugueses de cores azul e marfim, formando desenhos simétricos, à evocação de faixas paralelas e em zig-zag; na torre existem quatro sinos, sendo o mais antigo deles datado de 1810 (século XIX).
No interior da nave, cujo o piso é de mármore cinza, encontramos no centro do teto todo azul, uma pintura evocativa da proteção de Nossa Senhora a veleiros singrando o mar. Nas paredes laterais e em correspondência ao pavimento superior, destacam-se lindas sacadas com grades em jacarandá e, na parte anterior, uma grande grade, também em jacarandá, forma o guarda-corpo do Coro.
Continuando-se em frente, chega-se ao Altar-Mor, todo em talha dourada a “Pão-de-ouro”, o mesmo ocorrendo com os dois altares que o ladeiam, ambos menores; o da direita é o de Nossa Senhora das Necessidades e o da esquerda o de São Gonçalo. No Altar-Mor, destacam-se na parte superior, a singular imagem de Nosso Senhor Bom Jesus dos Navegantes e, abaixo desta, a formosa imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, dentro de um nicho.


DEVOÇÃO DO SENHOR BOM JESUS DOS NAVEGANTES

Tudo começou em dezembro de 1890, quando o culto ao Senhor Bom Jesus dos Navegantes, procissão católica durante muitos anos encampada pelo poder público, através da guarnição da Marinha, viu, de súbito, renegado todo apoio que era concedido pelo Estado.
Logo no primeiro cortejo, após a Proclamação da República, um incidente; desde quando podia lembrar-se a memória dos fiéis, entre os ritos da procissão constava uma salva de 21 tiros de festim que os canhões do Forte de São Marcelo disparavam à passagem do Crucificado, Protetor dos Navegantes. Assim sempre se fazia e assim seria feito naquele dia 1º de janeiro de 1890. Só que, desta vez, foram surpreendidos quando de tal salva de canhões viram passar por cima de suas cabeças duas balas de artilharia; uma delas quase foi bater em um navio norueguês, causando-lhes algumas avarias.
Na verdade, aquelas duas balas marcavam o início de uma nova fase da história dos festejos. Rompia-se, ali, toda a estrutura de interação entre o Estado e a Igreja, no Brasil. Ainda assim, a galeota oficial foi cedida.
Já para o ano seguinte, as relações ficaram ainda mais deterioradas. O arsenal de Marinha simplesmente negou o barco para conduzir a imagem do Bom Jesus dos Navegantes. Um negociante da cidade - Agostinho Dias Lima - cedeu um escaler de sua propriedade que foi rebocado no percurso de sempre por uma lancha do Serviço de Saúde do Porto. Estava assim preservada a procissão e estimulados os brios dos seus promotores.
A “desfeita” do arsenal de Marinha calou fundo na gente da construção naval. Efetivamente, no dia 4 já estavam reunidos carpinteiros, calafates, capatazes de todas as estações do porto, quando ficou deliberada a construção de uma galeota que será oferecida exclusivamente para a procissão do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, evitando-se, assim, futuras recusas da galeota que o Estado tinha para aquele serviço religioso”.
Foi um ano de intensa atividade para os devotos do Senhor dos Navegantes. Em estaleiro situado numa das transversais que demanda à praia do Bogarí, movidos pelo orgulho agredido, pela fé e pelo desafio profissional todos trabalhavam para a nova galeota.
A descrição exata da galeota é a seguinte: tem 60 palmos de comprimento, 12 de boca, 6 de pontal; o seu camarim tem 11 palmos de comprimento, sendo 9 de frente e 6 de fundo. O anjo Arcanjo tem 6 palmos de altura e foi feito no Liceu pelo Sr. João Guilherme. A ramagem e o emblema da popa foram feitos pelo Sr. João Batista.
Efetivamente, no dia 27 de dezembro de 1891, a galeota, depois da bênção presidida pelo Cônego Ludgero dos Humildes Pacheco, foi levada sobre a carreta, do estaleiro até a Ribeira de Itapagipe e, ali, ás 4 horas da tarde, foi lançada ao mar. As filarmônicas do bairro - Apolo e Carlos Gomes - mais a São Braz de Plataforma aumentavam o entusiasmo dos que respondiam, com as próprias forças, à negativa do ano anterior.
Construída a galeota “Gratidão do Povo”, viu-se aquela comissão na necessidade de se organizar melhor, a fim de assegurar a perpetuação do culto ao Senhor Bom Jesus dos Navegantes.
E assim nascia a Devoção do Senhor Bom Jesus dos Navegantes e de Nossa Senhora da Boa Viagem, à luz da fé, do entusiasmo e da determinação dos briosos daquela época.

(PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM )