quinta-feira, março 08, 2007

Cantinho Espírita


"A MULHER ATRAVÉS DA HISTÓRIA E NA ATUALIDADE VISÃO ESPÍRITA"

A Doutrina Espírita aborda a questão dos sexos esclarecendo em "O Livro dos Espíritos" que os mesmos Espíritos encarnam em homens e mulheres de acordo com a Lei do Progresso que determina as experiências e provas que necessitam vivenciar em um sexo ou em outro.
Os sexos se definem em fase transitória da evolução e, nos seres espirituais evoluídos, não mais se apresentam distintos como ainda observamos no nosso planeta de provas e expiações, mas concentradas as qualidades passivas e ativas na mesma individualidade espiritual assimiladas e desenvolvidas ao longo das vidas sucessivas.
Na história da humanidade constata-se a diversidade entre os seres encarnados gerando preconceitos e, conseqüentemente, perseguições devido a ignorância que nos caracteriza em relação à imortalidade do Espírito e finalidades da Reencarnação.
Em relação à mulher, o machismo predominante, desde a fase primitiva até a atualidade, impõe a esta um papel inferior seja na família com os diversos sistemas patriarcais seja como cidadã com direitos limitados em função do sexo.
Desde a Grécia antiga, séculos antes de Cristo, as referências à mulher por aqueles que tiveram, inclusive, um papel importante do ponto de vista cultural e que já evidenciavam o preconceito e a visão da mulher como ser inferior.
Hipócrates (médico e escritor grego) dizia que "a língua é a última coisa que morre numa mulher."
Platão (filósofo grego) impõe a vida no sexo feminino como castigo quando coloca que "os homens covardes que foram injustos durante a sua vida serão provavelmente transformados em mulheres quando reencarnarem."
Filósofos e teólogos, em épocas posteriores, se manifestam mantendo na cultura predominante a inferioridade da mulher, entre eles, São Tomás de Aquino que a ela se refere da seguinte forma "a mulher é um ser acidental e falho. Seu destino é viver sob a tutela do homem."
Diderot (romancista e dramaturgo francês), Napoleão Bonaparte (Imperador da França), Byron (poeta inglês), Augusto Comte (filosofo francês) e outros enfatizam a desnecessidade de educação com referências em suas obras depreciativas.
A frase de Comte ilustra a aversão citando que "quando vejo uma mulher ligada à história, às questões jurídicas, à lógica e outras drogas, eu entro em crise".
A Biologia atribui a mulher à função de serva estabelecendo, no período primitivo, a Teoria da Prostituição da Evolução Humana. Os machos são livres e com força física suficiente para caçar o alimento. A fêmea necessita agarrar um caçador masculino e mantê-lo por perto oferecendo sexo em troca de comida.
Pesquisas modernas nas áreas da Biologia Social, Psicologia Evolutiva, Antropologia e outras ciências contestam a dependência da mulher em relação ao homem o que trouxe uma reavaliação da evolução. Na década de 80, a francesa feminista Christine Delphy aconselha as mulheres pensantes a ignorar a biologia considerada ideologia machista.
Citam os especialistas a inexistência na natureza de espécies carnívoras entre as quais apenas um dos sexos é predador.Agricultura e pequenos instrumentos de caça em grande quantidade revelaram que a caça comunitária foi, possivelmente, realizada por mulheres e não por homens.
Nas últimas décadas do século passado, as mulheres reivindicaram seu espaço, inclusive contestando o modelo dominante da velha teoria da evolução humana centrada no sexo masculino.
Diferenças existem do ponto de vista físico entre os corpos de mulheres e homens no que se refere - entre outros aspectos - à formação do cérebro, características do sangue e aparência (altura, peso, músculos etc.). O Espírito como modelo organizador biológico, através do perispírito, define o sexo da matéria em organização estabelecendo, na sua conformação, as características do corpo físico adequado às experiências na nova internação no mundo material. O organismo, uma vez formado como manifestação do espírito, exerce a sua influência na sua exteriorização no mundo material. As diferenças cumprem função essencial em relação ao progresso que se realiza em uma determinada existência.
Tais diferenças não podem ser utilizadas para práticas que ainda se observam particularmente no oriente, África e até em comunidades muçulmanas no Canadá, Eua e outros países que através de vários mecanismos levam a mutilação do órgão sexual feminino por extirpação parcial ou total. Os processos de mutilação à margem da lei levam a inexistência de anestésicos e utilização de tampas de latas, canivetes etc. com infecções e óbitos de grande número de mulheres em todo o mundo. Em países como a China os controles de natalidade levam ao aborto de bebês do sexo feminino e até ao infanticídio de crianças do mesmo sexo em virtude da ênfase cultural ao filho do sexo masculino.
No Brasil, embora a constituição federal estabeleça que "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações" tal igualdade não se verifica na prática, devido a cultura machista predominante, inclusive nas próprias instituições que devem aplicar a lei.
No país onde temos uma verdadeira super legião de pessoas que vivem na miséria, encontramos, somente, em torno de 34% das mulheres empregadas com os registros exigidos por lei que lhes garantem os direitos inerentes a relação de emprego.A mulher ganha em média 2/3 do salário pago ao homem na mesma função. Os homens detêm 70% da renda nacional e as mulheres apenas 30% da mesma renda. As mulheres ocupam 6,7% das cadeiras no poder legislativo. Dos cargos de gerência e administração, apenas 17% são ocupados por mulheres. A discriminação está por toda a parte gerando violência responsável por grande número de óbitos entre mulheres de 10 a 49 anos.
O movimento de liberação dos direitos da mulher vem se desenvolvendo, principalmente desde o século XIX que se inicia com a luta pelo Direito ao Voto. Em 1910 é criado o dia internacional da mulher em memória das 129 operárias assassinadas por patrões em uma indústria têxtil durante um protesto contra as condições de trabalho em 1857.
Verifica-se a grande luta desenvolvida por espíritos encarnados na figura feminina pelos direitos essenciais do ser humano que devem se adequar às leis naturais com a conseqüente igualdade e fraternidade de todos perante o Criador. As lutas servem aos propósitos de evolução intelectual do Espírito na sua condição individual e ao mesmo levam ao progresso a vida que se manifesta na matéria através de novas leis sociais que estabeleçam a justiça independente do sexo dos indivíduos sobre os quais elas atuam.
Surge, em 1949, o livro que marca o nascimento do Feminismo "O segundo Sexo" de Simone de Beauvoir e a famosa frase da escritora "não se nasce mulher, torna-se", referindo-se ao impacto da educação na formação de crianças e jovens do sexo feminino.
Na década de 60, o desenvolvimento maior da pílula anticoncepcional dá impulso àquilo que se denominou de Revolução Sexual. As mulheres passam a fazer sexo por prazer e escolhem o momento de ter filhos através de controle de natalidade.
Em 1975, na cidade do México - ano internacional e década da mulher - foi estabelecido um plano de ação para eliminar discriminações contra a mulher. Em 1995, na China, a 4a. conferência mundial da Mulher revela que no mundo "faltam 60 milhões de mulheres" referindo-se a destruição de vidas pela violência e pelo preconceito.
A mulher, na atualidade, tem acesso a vida profissional, mas embora contribua com o orçamento familiar, ainda se exige que continue obediente ao marido.
Entretanto, neste momento, mais e mais se observam os movimentos para reconhecimento da igualdade - guardadas as diferenças óbvias entre os sexos - entre homens e mulheres. Os homens enfrentam uma nova fase que exige adaptações e concessões que, na maioria das vezes, não se encontram preparados para fazer, gerando conflitos, principalmente no âmbito da família. Visões diferentes da vida e também do casamento agravam os conflitos sendo que, na atualidade, tais conflitos geram vários casos de separação os quais são, na maioria das vezes, promovidos por iniciativa das mulheres.
Torna-se necessária à educação e, em especial, a Espírita para que, conforme cita Léon Denis, "as duas metades da humanidade se aliem no amor, para cooperarem juntas no plano providencial, nas obras da divina inteligência." Melhor integração com o sexo oposto - uma das metas que se cumpre alcançar no desenvolvimento das relações humanas facilitando a convivência entre as pessoas em todos os ambientes familiar, profissional, social e espírita.
Manifestam-se, nas mulheres, faculdades psíquicas revelando um papel importante no trabalho mediúnico nas Casas Espíritas. O espiritualismo moderno que se desenvolve a partir do século XIX e do qual faz parte integrante e tem um papel importante a Doutrina Espírita, retoma os exemplos grandiosos de Jesus que vivendo em sociedade patriarcal eleva a mulher à condição de igualdade evidenciando o seu importante papel em toda a história da humanidade.
Cita Kardec, em Revista Espírita (janeiro de 1966), que "os sexos só existem no organismo. São necessários a reprodução dos seres materiais." embora características femininas ou masculinas se apresentem no Espírito na erraticidade condicionados às vidas sucessivas nos sexos na matéria, enfatiza que para progredir os espíritos se ligam aos diferentes sexos e que "...aquele que foi homem, poderá nascer mulher e aquele que foi mulher poderá nascer homem, a fim de realizar os deveres de cada uma dessas posições, e sofrer-lhes as provas."
Não há duas espécies de almas. O princípio inteligente na sua origem não se define pelo sexo. Na evolução, o sexo se define na matéria encadeando o processo criador na Lei da Reprodução inerente a maioria dos seres vivos. No futuro, o espírito evoluído da mesma forma, não se define por sexo, integrando ao seu campo espiritual as experiências relativas a ambos os sexos através das reencarnações.
A idéia da inferioridade da mulher decorre, principalmente, das doutrinas materialistas nas quais ela, mulher, somente se eleva através do homem.
Entretanto, com a doutrina espírita "... a igualdade da mulher não é mais uma simples teoria especulativa; não é mais uma concessão da força a fraqueza, é um direito fundado nas mesmas leis da natureza. Dando a conhecer essas leis, o Espiritismo abre a era da emancipação legal da mulher, como abre a da igualdade e da fraternidade." (Kardec).
E com o ensinamento extraordinário do grande Codificador encerramos este artigo homenageando as mulheres no seu Dia Internacional - 08 de março - e convidando a todos para que através da educação espírita se estabeleça, de forma definitiva, a igualdade e a fraternidade entre os sexos para que haja paz e harmonia entre as criaturas e felicidade nos relacionamentos entre homens e mulheres.

(Wlademir Lisso - FEESP )