sexta-feira, dezembro 02, 2005

Cantinho dos Livros

IRENE PACHECO MACHADO

DEIXE-ME VIVER


DEIXE-ME VIVER
Autor: Irene Pacheco Machado / Esp. Luiz Sérgio
Editora: Ed. Recanto
Número de páginas: 257 págs

Sinopse: O homem precisa da escola terrena para progredir e busca o corpo físico para resgatar suas faltas pretéritas. Preocupados com as rejeições que vêm ocorrendo em relação à gravidez, a Espiritualidade superior dotou a Ciência de meios para amenizar a violência cada vez maior praticada contra os Espíritos que precisam de um corpo carnal, de forma que a mulher possa evitar uma gravidez, sem que seja necessário valer-se de ato tão selvagem e indigno como é o aborto.


Capítulo XII

BANHO DE LUZES A MÁQUINA HUMANA

Se o encarnado buscasse as verdades espirituais, não viveria nas trevas da ignorância. Quem conhece as conseqüências de um aborto jamais o comete. Por falta de esclarecimento muitos males acontecem na Terra-o aborto, um deles. Quantos casais planejam a chegada do bebê, entretanto, quando a criança não está nos seus planos, é expulsa de maneira cruel através do assassinato.
Já de volta à Colônia dos Rejeitados, fui com meu grupo até o auditório onde uma platéia muito estranha ouvia atentamente uma preleção de Olavo. Olhei aqueles corpos, sem encontrar palavras para descrevê-los. Alguns espíritos, bem deformados, possuíam rosto de criança e corpo de adulto; outros, corpo de criança com braços e pernas de adulto.
Olavo tecia comentários sobre o porquê de o homem se dizer dono de si mesmo, sempre pronto a rebelar-se contra a sociedade, dizendo-se livre, porém, na hora da verdade, tudo fazendo para não assumir os fatos:
- O desejo está em oposição às tendências morais. A mulher só pratica o aborto quando se sente incapaz de assumir uma vida, sendo esta a causa de muitas buscarem ajuda nas clínicas abortivas. Mas os abortados precisam conscientizar-se de que o aborto é um ato físico e o espírito não deve ficar reavivando os fatos tristes que enfrentou. Sei que carrega no corpo a chaga da rejeição, mas nem por isso deve considerar-se rejeitado. Cada cérebro é uma casa, um mundo, enfim, um universo, e somente seu dono pode arrumá-la. Se ficarmos ornamentando nossa casa, nosso mundo, com os enfeites da revolta, da vingança, do ódio, teremos um cérebro perturbado e uma casa mental em desalinho, fugindo do universo de Deus. Sabemos que no momento do violento aborto o cérebro, defendendo-se, deseja, em alguns segundos apenas, dar outra vez nova modelagem ao corpo. Nesse desespero ocorrem as anomalias da forma perispiritual. Não esqueçamos que, para chegar à condição de feto, tivemos de aprender a nos concentrar de tal modo que, por vontade própria, déssemos ao corpo perispiritual a forma diminuta.
Olavo mudou o tom da voz, falando suave e pausadamente:
- Agora, neste auditório, vamos olhar as lâmpadas que se encontram no teto e vamos dar um novo colorido à nossa casa mental. Vamos, ainda, buscar no inconsciente o apagador e, depois de ter retirado da nossa mente os fatos cruéis já vividos, vamos fazer crescer a vontade da cura e plasmar com amor um corpo perfeito para nós. Vamos fixar as lâmpadas e agora, como se fôssemos pintores, tocar cada parte do nosso corpo, dando-lhe as formas das quais ele precisa.
Estabeleceu-se completo silêncio. As luzes ganharam uma nova irradiação e todos aqueles espíritos, de olhos bem abertos, fixavam as lâmpadas para depois cerrarem os olhos e pouco a pouco foram moldando, cada qual, um novo corpo. Quando olhei novamente aqueles corpos, antes tão deformados, pude constatar que agora voltavam a possuir uma forma mais equilibrada.
Olavo parabenizou-os:
- Conseguiram! De hoje em diante todos sabem que a chave da felicidade se encontra dentro de nós e que, para viver em paz, precisamos amar a Deus e ao próximo.
Muitos não conseguiram conter o pranto, tal a emoção que os dominava, ao perceberem que a cura havia-se operado. Terminada a sessão de terapia, vários enfermeiros foram retirando
os irmãos. Não eram mais crianças, eram espíritos que haviam retomado à sua antiga roupagem perispiritual. Acerquei-me de Hápila e indaguei:
- Será que o ódio acabou?
- Acho que não, ainda terão de buscar novos tratamentos.
- Irmão, até que foi fácil o retomo à forma antiga...
- Sim, Sérgio. Pode ter-nos parecido fácil, mas não sabemos quantas sessões de terapia eles tiveram com Olavo.
Enquanto nós dois conversávamos, Olavo aproximou-se.
- Como passam, garotos?
- Graças a Deus, muito bem.
- Por que a visita, desejam algo?
- Estamos aqui em estudo e ficamos boquiabertos com o que ocorreu neste recinto.
- De quantas sessões eles precisaram?
- Não sei, foram tantas, que perderia meu precioso tempo se fosse contá-las. O importante é que cada qual buscou no interior da alma os elementos psíquicos adquiridos ao longo da vida uterina, procurando descobrir quais foram os acontecimentos que mais o marcaram, se a redução da forma física ou, principalmente, a violência da hora do aborto.
- O que faz para ganhar a confiança desses doentes, irmão?
- Acho, Luiz Sérgio, que eles enxergam em mim um defensor da verdade e notam a minha inquebrantável fé na razão.
Além do mais, sempre gostei de crianças. Durante vários anos, quando encarnado, trabalhei numa clínica neurológica para crianças.
Hoje usei o sono hipnótico, fazendo-os recordar as circunstâncias que deram origem às suas deformações perispirituais.
Só isso foi feito, meu amigo.
- Eles voltarão a reencarnar através da mesma mãe?
- Penso que não, nem acho prudente recolocarmos alguém que já sofreu tanto ao lado dos seus algozes. Pode parecer benéfico para ambas as partes, mas, como estudioso do inconsciente, acho injusto tal procedimento. Foi gratificante observar a felicidade daqueles espíritos antes tão deformados. A violência na Terra, a cada instante, faz tombar uma vítima. Os anos passam, mas o mundo interior de cada homem não muda, talvez porque em cada ser exista um universo ainda com regiões desconhecidas da própria ciência.
- Sabemos que o irmão sofreu muito quando encarnado e o seu país vivia momentos difíceis. Como conseguia manter seu equilíbrio?
- Convivendo com desequilibrados, sentia-me um rei, mesmo com todas as dores por que passei, não só com os bisturis e os médicos, como também em ver o meu país dominado. A
doença cruel, que ia corroendo-me pouco a pouco, era a companhia diária. Mas tudo teve um fim. Entretanto, a separação da pátria amada foi o pior. Sou um homem que sempre acreditou no ser humano e luta para que todos sejam felizes. Quando o inimigo batia à minha porta, eu via nele a outra face, aquela oculta dele mesmo. Graças a Deus, de ninguém guardei mágoas.
- Irmão, por que a mulher pratica o aborto?
- Ela é levada pelos preconceitos internos.
- Pode explicar melhor?
- Sim, meu amigo. Por mais que a mulher se diga dona do seu corpo, ela ainda não o conhece, e por não conhecê-lo, dele abusa. Quando percebe que não pode controlar a natalidade, a não ser através de métodos anticoncepcionais, vê-se incapacitada.
Por mais que pretenda, não consegue ser sexualmente igual ao homem. Para dominar seu corpo, terá de lhe amortecer as funções. Ela me recorda os obesos: querem emagrecer sem parar de comer. No dia em que a mulher enriquecer sua mente, será dona de seu corpo. Diz-se liberada, mas é prisioneira dos preconceitos. Arraigada aos preconceitos do passado, continua a ser um objeto usado e descartado. A mulher inteligente obtém primeiro sua liberdade intelectual, depois a profissional, para depois fazer a escolha do que deseja realmente na sua condição de fêmea. Acredito mesmo que uma mulher inteligente e realizada profissionalmente jamais praticará o aborto. Quem o pratica hoje em dia são as mais jovens, por temerem as conseqüências dos seus atos. Dizem-se liberadas, mas as de hoje são mais retrógradas do que as de ontem, pois fazem e não assumem. Antigamente os jovens não cometiam tantos erros, pois as vezes que eram imprudentes assumiam o que faziam. Hoje, não. A juventude liberada está por demais medrosa. Também praticam o aborto as domésticas, que vivem para servir, mas não vivem felizes, e para elas um filho a mais é trabalho aumentado. Há também as mulheres de baixa renda que temem a gravidez, porque não vêem meios de criar um filho. Portanto, encaramos o aborto como um fato social. A mulher só o pratica porque ainda se julga um ser pequeno.
A mulher superior, equilibrada, não mata, busca nas fibras do seu organismo físico os elementos que poderão ajudar a sua alma no instante em que terá de viver este momento novo, porque o seu organismo está recebendo outra vida: um filho. Se esta mulher já está realizada intelectual e profissionalmente, acredito que jamais pensará em matar. Porém, a mulher-objeto, que só serve de forma de prazer ao macho, esta mulher não lhe quer bem, é ser perigoso, porque perigosos são todos os seres pequenos que rastejam sob os pés dos homens, e ela, na primeira oportunidade, usará o ferrão.
Ela, a mulher-objeto, não possui ainda a base do equilíbrio. Portanto, Luiz, todas as mulheres que abortam precisam fazer análise; ainda não se descobriram, algumas nem sabem o que é ser mulher. As verdadeiras mulheres possuem o instinto materno, elas são os grandes vultos da Humanidade.
- Mas, Olavo, hoje, em alguns países, pratica-se mais o aborto do que nascem crianças.
- Tem razão. Nunca se viu tanta mulher sem comportamento; despem-se, drogam-se, prostituem-se, sem vacilar. Elas ainda julgam que a igualdade de direitos está no sexo e esquecem que as grandes mulheres e os grandes homens fizeram a História através da inteligência e do sentimento. Hoje a menina deita-se com o companheiro porque está na moda, e não por se completar nele. Resultado: homens e mulheres repletos de neuroses.
- Estou abismado, Olavo, sempre o julguei um defensor das livres atitudes, achando que o homem, para ser feliz, tem de fazer tudo que julga certo.
- Pelo visto, conhece-me pouco. Sou a favor da liberdade da alma. Não acho certo, para livrar-se de algo, ficarmos prisioneiros de outra coisa. Isto é transferência de responsabilidade.
Só devemos dar o passo se a perna estiver firme. Não sou adepto dos tombos, acho que o homem precisa ficar forte para saber andar, ou pular. Um bom psicólogo tem de ajudar o homem a se libertar das amarras, das neuroses, e não descartar uma, adquirindo outras. O sexo hoje é cantado em versos; fala-se de sexo como se ele estivesse exposto em uma vitrine, e não como se deve falar: de algo puro e natural, cujo respeito o homem ainda não lhe dá.
- O senhor é contra a nudez?
- Jamais serei contra a nudez. Se ela fosse pecaminosa, nós não viríamos ao mundo nus. Só não é bom para a mente humana usarmos o nu como se fosse um aperitivo para ser tomado antes de qualquer banquete. O nu é uma das expressões mais singelas da nossa alma; quando a veste de seda ou linho se desfaz, surgindo o corpo, fica defronte dos nossos olhos a máquina física, comandada por uma inteligência chamada espírito.
Se nós, envergonhados, cobrimos as partes íntimas, é a nossa alma que não deseja se mostrar. Mas se caminhamos livremente, sem nos envergonharmos, é a nossa alma que já se despiu dos preconceitos e também confia nos olhos que a vêem. Está vendo, Sérgio, não somos contra a nudez, somos contra as fantasias que o homem carrega na alma e que a fazem por demais maldosa. Mas chegará o dia em que na Terra todos os homens irão se respeitar. Dizem os livros espirituais que o homem encontrará a fonte e, ao se banhar, conhecerá a sua verdadeira personalidade; aí, sim, a Terra será composta de verdadeiros homens, os que já passaram por ela e souberam viver em espírito.
O "papo" estava ótimo, mas Josef veio buscar Olavo; em outra ala sua presença era requisitada. Despediu-se, dizendo-me:
- Sérgio, fite bem o seu corpo, nele estão marcadas as partes importantes, e através delas é que nós paramos ou prosseguimos.
O corpo é máquina, o espírito também, pois quando uma pára, a outra comanda, portanto, ninguém deve sentir-se incapaz. Deus ofertou-nos a inteligência para que não deixemos as nossas máquinas pararem por incompetência. Até mais.

(Extraído do livro Deixe-me Viver- Irene Pacheco Machado – Pelo espírito Luiz Sérgio)