segunda-feira, janeiro 30, 2006

Cantinho das Mensagens

NÃO BEBO MAIS

Insistiram tanto em falar comigo, até que, um dia, aceitei esse encontro.
Diziam que minha voz deveria ser ouvida por muitos.
Eu reagia a esse apelo, pois não acreditava que algo de bom pudesse dizer. Nem palavras floreadas, nem conteúdos filosóficos ou científicos.
Mas era demais a insistência e eu não pude mais fugir deste compromisso.
Preparei-me por muitos dias e, na hora exata, ali estava. Olhos e mais olhos me observavam. Nas suas expressões, a espera talvez de ouvir a inevitável história de quem não soube escrevê-la.
Passei por esses olhares e comecei a falar. Palavras simples, idéias curtas, expressões singelas. Mas consegui. E entre palavras e tomadas de fôlego, os olhares foram se modificando. Alguns, mais lentos entre uma piscada e outra. Outros, expressando o querer mais; outros, penalizados. E alguns, até rasos de lágrimas. Fui ganhando forças e pude cumprir o esperado.
Levei, a muitos, a minha vida. Discursei e me coloquei de forma tão sincera e verdadeira que eles, agora não mais na condição de meros espectadores, transformaram-se, ali na minha frente, em pessoas como eu: indecisas, inseguras, esperançosas, tristes, aflitas. Todos procurando, assim como eu, o momento exato de rever a si próprios com bravura, justa e simples e, aguardando o dia de estar na frente de todos, dizer: venci, não bebo mais.

(Irmã Júlia)