sexta-feira, março 03, 2006

Um pedacinho de Salvador

MUSEU NÁUTICO

Instalado no Farol da Barra, o Museu Náutico da Bahia guarda histórias e lembranças de navios naufragados na costa baiana. Além de museu, é um espaço de transmissão de conhecimentos relacionados à Hidrografia, Sinalização Náutica e Cartografia da Baía de Todos os Santos. A administração é do Departamento Regional do Abrigo do Marinheiro de Salvador. O Museu mostra aos visitantes o acervo de instrumentos utilizados pelos navegantes de hoje, bem como réplicas dos modelos utilizados a partir do século XV.


As visitas podem acontecer de terça a domingo, das 9h às 19h.

O museu foi criado em torno dos achados arqueológicos do galeão Santíssimo Sacramento, afundado na região de Rio Vermelho em 1668. Os trabalhos foram coordenados pela Marinha, por isso boa parte do material foi enviado a museus navais no Rio. Mas Salvador também ficou com uma parte representativa que se lê como uma espécie de "cápsula do tempo" da vida a bordo de um navio de guerra do século 17.
Ali estão dedais, muito usados por marinheiros que tinham que remendar grossas velas; copos e pratos tanto rústicos -usados pela tripulação mais pobre- , como feitos de cerâmicas nobres, usados pelos oficiais. Há crucifixos, balas de mosquete e de canhão e ânforas variadas.
E, no terrapleno (o "pátio") do forte estão dois canhões de bronze de origem portuguesa. Ao contrário dos toscos canhões de ferro, que terminam irreconhecíveis depois de três séculos debaixo d'água, os de bronze permanecem relativamente imunes aos estragos do mar, deixando ver brasões e marcas do fundidor.


O pátio tem outros moradores além dos canhões: mesinhas, cadeiras e guarda-sóis do Café do Farol. O pequeno restaurante é todo decorado com motivos náuticos. Seu cardápio é eclético: moquecas e pratos nordestinos como o "escondidinho" (no qual um dos ingredientes, como farinha, purê ou mandioca, cobre os outros) e o "arrumadinho" (no qual os ingredientes são dispostos em camadas, lado a lado), crepes doces e salgados e petiscos tradicionais como casquinha de siri.
O forte nunca foi uma posição de destaque na defesa de Salvador. Ficava distante da cidade, então restrita ao centro histórico; era pequeno e mal desenhado. Sua versão original era um polígono de oito lados, depois virou um polígono irregular como ainda é hoje, mas sem nenhum baluarte capaz de flanquear os tiros defensivos. Era muito mais um posto de sentinela do que um forte poderoso, "a função de vigia da barra da Baía de Todos os Santos, para o que tinha posição privilegiada", escreveu o arquiteto baiano Mário Mendonça de Oliveira, em um novo livro sobre os fortes da cidade, "As Fortificações Portuguesas de Salvador Quando Cabeça do Brasil". "Esta função valeu à nossa fortaleza a alcunha de Vigia da Barra", diz o professor Mendonça, da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

De pé na guarita, olhando na direção do alto-mar, é possível imaginar o que devia ser a vida de um soldado ali postado, isolado da cidade e temendo a cada momento a presença de velas no horizonte que poderiam significar uma das várias frotas holandesas que saquearam a região do Recôncavo.

(Ricardo Bonalume Neto viajou a Salvador a convite da Associação Brasileira de Jornalismo Científico).