terça-feira, junho 06, 2006

Cantinho das Mensagens

CORAGEM

Como é difícil compreender o verdadeiro sentido desta palavra!
O que é ter coragem? É ser um "valentão"?. É ser alguém que não mede suas palavras? É ser alguém que se diz corajoso e arrojado e enfrenta desafios descabidos, apenas para sua própria satisfação?
Desafios do tipo: alpinismo, esqui, pára-quedismo e tantos outros considerados como "esporte". Ah, ia me esquecendo do automobilismo... este esporte que movimenta multidões... Pois todos nós, ao colocarmos as nossas mãos na direção de um veículo, nos sentimos "verdadeiros automobilistas".
Mas será isso coragem? Ou será um mero "lustrar" do ego, ao receber os aplausos, ao ser parabenizado por esta ou aquela façanha?
Eu fui um destes tolos "corajosos e arrojados" que desafiam a natureza - fui um alpinista. Escalei diversas montanhas, diversos picos, na certeza de que nenhum deles seria um oponente do qual pudesse ter medo. Afinal, eu era corajoso e destemido.
E fui seguindo o curso de minha vida, de temeridade em temeridade, sempre achando que poderia ser um pouco mais arrojado. Até que, um dia, no jogo com a vida, fui eu que perdi.
Num momento de descuido, de distração, de confiança demais em mim mesmo, inebriado pela minha audácia, pela minha "coragem", não prestei a atenção devida à colocação dos pinos na rocha e despenquei. Fui vencido... Não pela escarpa íngreme, mas pelo tamanho do meu ego, pelo meu excesso de confiança.
No momento exato em que não havia mais como consertar o erro, no momento exato em que me dei conta de que aquele seria o meu fim, reconheci como havia sido tolo durante a minha vida inteira. E clamei por Deus... Clamei por Ele do fundo do meu coração, pois a adrenalina que até então dava-me forças para continuar sempre em frente, subitamente ajudou-me a perceber, com pavor, com covardia, que havia morrido.
Foi neste preciso instante que eu, que me considerava tão corajoso, deparei-me com o meu "eu covarde". Pois um frêmito de terror invadiu-me a alma ao ver meu corpo despedaçado, ao sopé da montanha. Neste momento, através de uma nesga de luz que atravessava a escuridão do meu terror, pude sentir perto de mim, dentro de mim, no meu coração, a presença de Deus.
Uma voz, em meu interior, incentivava-me a, agora sim, ser realmente um ser corajoso e afastar-me dali em direção a outro tipo de escalada. A escalada da compreensão, da fé, da evolução.
Então, mais uma vez, fica a pergunta: O que é coragem? O que é ser corajoso?
Para mim ser corajoso é o preciso instante em que você se dá conta de ser menor do que um grão de areia, mais frágil do que um grão de pó e aceitar isso. Aceitar, compreender e conviver consigo mesmo da maneira como é, sem precisar provar nada para ninguém, nem para si mesmo. Sem precisar colocar em risco a sua vida nem a dos outros.
Coragem é aceitar-se.
Coragem é levantar-se ao cair e continuar.
Coragem é reconhecer seu erro.
Coragem é admitir o quanto você é pequeno frente a imensidão do universo.

(Irmão André Luiz Borges)