domingo, julho 22, 2007

Para Refletir


MENSAGEM DE UMA EX-MENDIGA

Durante quase um ano a minha casa foi na esquina da rua Paula Freitas em Copacabana. Junto a outros esquecidos como eu, ali esperava que um milagre acontecesse, permitindo-me recuperar a vida que a cada momento se perdia.

Sentada à calçada,quantas vezes olhando aqueles que passavam felizes, perguntava a mim mesma porque a vida me tinha sido tão ingrata...Crescendo em meio à pobreza,mesmo em criança nunca nenhum sonho meu fora atendido, nem um só desejo realizado.

Sentia-me doente e só naquela tarde quase noite. O estomago doía e eu pensava que logo a noite chegaria e como seria difícil suportá-la, pois a fome que aumentava e o frio que se anunciava certamente não me deixariam, mais uma vez, dormir. Reacusava-me a usar a bebida, como outros companheiros, por único recurso possível para alcançar o beneficio do sono. Algo dentro de mim impedia-me de buscar o esquecimento daquela forma.

Assim, mais uma noite chegou. Logo o movimento da rua foi diminuindo e os amigos que comigo viviam buscaram a marquise, aconchegando-se uns aos outros de modo a adormecer. Quieta, tudo observava enquanto pensava: - Meu Deus Por que a vida é assim? me ajuda,meu Deus, me ajuda! De repente, ouvi uma voz e alguém me tocou.

Percebi que, sem sentir,adormecera. Amedrontada e assustada abri os olhos e fixei-os em quem falava. Um homem jovem me oferecia um prato de comida. Ansiosa aceitei, ao ver que os companheiros aceitavam também.

Ainda recordo a sensação confortadora de comer. Há tanto tempo não comia algo assim! Tentava conter as minhas lágrimas, disfarçando a emoção que me tomava o coração.

Deus havia respondido a meu apelo.

E me ensinava,naquele momento, que era necessário continuar acreditando que, dentre aqueles que passavam apressados, alguns observavam a pobreza esquecida e rejeitada que aí ficava, à beira da sarjeta. Alguém percebia que somos gente e temos fome e frio, mas temos também sonhos e sentimentos.

Não consegui saber o nome do moço que me estendeu a sua mão e o seu carinho, confortando-me naquela noite de solidão. Mas pedi a Deus que o abençoasse e a seus amigos que naquela noite deixavam as suas casas para levar um pouco de conforto aos miseráveis do caminho.

Após alimentar-me adormeci, feliz, e num estranho mistério naquela noite Deus respondeu a todas as minhas preces, pois ao final da madrugada adormeci para acordar, mais tarde, em um novo mundo,já desligada de meu cansado e doente corpo de carne.

Ho! irmãos!

Não vos esqueçais de que nestes corpos sujos e doentes, que o vosso instinto rejeita e o vosso coração distraído muitas vezes repudia, existe um coração que sonha e esperar! Sonha com o dia em que, na terra, todos possam desfrutar igualmente as bênçãos da vida, porque o espírito da verdadeira fraternidade já tem lugar no coração dos homens.

Lembrai-vos de que, um dia, veio à Terra o filho unigênito de Deus e elegeu para seus companheiros os pobres e sozinhos.

Abri as portas de vossos lares.

Abri as portas de vossos corações, na certeza de que, de nosso coração, um agradecimento se eleva a Deus pelos gestos de bondade que a nós endereçais.

Jesus vos abençoe a todos.

Rosária Maria da Silva (ex-mendiga)

MSG. psicografada numa reunião mediúnica em 05/05/91, na Casa Espírita Eurípides Basanulfo