quarta-feira, julho 27, 2005

Cantinho da Poesia

UM TIQUINHO DE MIM
(A uma prostituta doente)

Hoje eu vi aqui
Prá lhe dar um tiquinho de mim.
Vou lhe dar um beijo e vou embora,
Vou deixar com você um tiquinho de mim.
Eu sei que você não vai sentir nada,
Porque os prostitutos a prostituíram demais,
Mas faço questão
De lhe dar um tiquinho de mim,
Sem pedir nada em troca
E talvez seja o primeiro a fazer isso...
Nada em troca!
Tomara que meu beijo de irmão
Seja um curativo para suas dores.
Vou lhe deixar um tiquinho de mim
E, no aperto de mão,
Vou lhe deixar um tiquinho de outro alguém,
Vou deixar um grito de amor,
Vou deixar um livrinho metido a besta,
Metido a modificar as pessoas,
Vou deixar um tiquinho de João,
De Lucas, de Mateus, de Marcos.
Vou deixar um tiquinho de Paulo,
Vou deixar um tiquinho do Testamento
De um “cara” que levantou uma colega sua
E quebrou os tabus da época
Ele me mandou aqui sem se importar com sua saia curta,
Sem se importar com sua blenorragia crônica,
Sem se importar com sua sífilis,
Com suas rugas escondidas na maquiagem
Com sua fama estendida na sarjeta,
Com seu preço desvalorizado!
Eu vim aqui deixar um tiquinho de mim.
Eu vim pedir que você perdoasse
Os imbecis que lhe usaram, como deposito de espermas.
Eu vim aqui deixar um tiquinho de mim
E aproveito para o recado:
Madalena chora com você, em cada esquina,
Em cada cama...

(Extraído do livro “Deus Negro - Poesias e Pensamentos” – Neimar de Barros)