sábado, novembro 04, 2006

Cantinho Espírita

GÊMEOS SIAMESES

SERÁ QUE OS CASOS DE GÊMEOS UNIDOS POR PARTES DO CORPO FÍSICO TÊM RELAÇÃO COM GRANDES CONFLITOS DE DOIS ESPÍRITOS AO LONGO DAS REENCARNAÇÕES?


A ciência como um todo, mas especialmente a medicina,tem surpreendido a humanidade quase semanalmente com descobertas e experiências capazes de causar perplexidade e, não raro, temor pelas possíveis conseqüências éticas. Dentre as mais recentes, poderíamos citar a clonagem, o uso da engenharia genética em humanos, cirurgias realizadas por robôs, operações intra-uterinas, técnicas de transplantes cada vez mais ousadas etc.
No início de novembro do ano passado, o mundo tomou conhecimento da polêmica envolvendo uma cirurgia realizada na Inglaterra, visando a separação de duas meninas xifópagas. O que mais fomentou,a discussão é que tal intervenção decretaria necessariamente (como de fato causou) a morte de uma delas, caracterizando a eutanásia para muitas opiniões. A família, proveniente da ilha de Malta e católica praticante, opunha-se, mas a direção do hospital recorreu à justiça e consumou a cirurgia.
Antes de adentrarmos na análise das nuanças deste caso em particular, é conveniente nos situarmos em relação à gênese do fenômeno. Na bibliografia espírita, encontramos referências aos xifópagos em duas obras: Gestação, sublime inter-câmbio, do médico Ricardo Di Bernardi, e Perispírito e suas Modelações, publicação bem recente de Luiz Gonzaga Pinheiro. Em uma, temos a respeitada opinião de um profissional da área e, em outra, relatos obtidos a partir de desdobramentos mediúnicos. Faremos as citações quando forem oportunas, para ilustrar ou acrescentar algo mais aos nossos comentários.

O QUE DIZ A MEDICINA?

Do ponto de vista médico, os casos de siameses compõem o interessante capítulo da embriologia chamado “teratologia”. Nela se estudam as anormalidades anatômicas acusadas em um único indivíduo ou em duplos, sendo que entre estes, conforme as partes do corpo ligadas, existem várias classificações e sub-classificações.
Teríamos na classificação principal os “monstros de eixos corporais paralelos” (teratópagos), os em forma de “Y”, “Y” invertido e os parasitários.
Nos primeiros, teríamos os toracópagos (ligados pelo tórax), os esternópagos (ligados pelo osso esterno), os cefalotoracópagos (ligados pela cabeça e tórax), os metópagos (ligados pela face) e os pigópagos (ligados pelo dorso). Naqueles em forma de “Y”, há uma bifurcação a partir de certo ponto do eixo do corpo, isto é, duas cabeças e dois troncos para um par de pernas. Nos “Y” invertidos, há uma cabeça e tronco e pares de membros duplos.
No grupo dos parasitários (classificação interessante do ponto de vista espiritual), um dos indivíduos é atrofiado e parasita o outro, que, em geral, é bem desenvolvido e proporcionado.
Às vezes, nos pigômelos, do segundo só há o par de pernas suplementares. Aqui também se enquadra o parasita interno na forma de tumores benignos, às vezes atingindo o tamanho da cabeça de uma criança e contendo órgãos mais ou menos completos, como ossos, fígado, cérebro etc., além dos “quistos dermóides”, surgíveis em qualquer tecido do corpo, especialmente ovários. São pêlos, unhas, músculos etc.
Em muitos destes casos, os siameses, que sempre são do mesmo sexo, desenvolvem-se até a idade adulta e alguns se casam e têm filhos, como Mirtle Corbum, a chamada “mulher dupla”, no Texas, em 1915. Embora a fonte informe que possuía quatro pares de pernas, a fotografia parece indicar a existência de somente dois, bem como dois aparelhos genitais completos. Ela teve cinco filhos, três num sistema e dois no outro. Violeta e Daisy Hilton também casaram, com um único marido.
O caso das xifópagas separadas na Inglaterra, segundo o que apuramos, seria classificada como em forma de “Y”, quase atravessadas, porém com forte componente parasitário, visto
que possuíam um só par de pulmões e um único coração, pertencentes, na realidade, a uma delas apenas. A sobrecarga cardio-respiratória em pouco tempo levaria as duas ao óbito. Daí a argumentação dos médicos para se fazer a cirurgia, mesmo contrariando a vontade da família.


A primeira ocorrência desse fenômeno ocorreu em 1811, com os gêmeos Chang e Eng, em Sião, na Tailândia. Daí a origem do termo “irmãos siameses”. Colados pelo ombro, casaram e tiveram 22 filhos, permanecendo unidos até o fim.

ÓDIOS, OBSESSÃO E EXPIAÇÃO

Do ponto de vista espiritual, entendemos se tratar provavelmente de dois espíritos ligados por ódio extremo, talvez de muitas reencarnações, e que renascem nestas condições não por livre escolha ou punição divina, mas por uma espécie de determinismo originado na própria lei de causa e efeito. Alternando-se as posições como algoz e vítima e, também, de plano (físico e espiritual), impelidos por irresistível atração de ódio e desejo de vingança, buscam-se sempre e acabam se reencontrando por vezes em circunstâncias dramáticas, que os obrigam a partilhar até do mesmo sangue vital e do ar que respiram.
Com o sofrimento decorrente das limitações físicas e as dores morais do convívio forçado e da exposição à curiosidade pública, um pouco das energias deletérias acumuladas em seus perispíritos serão drenadas. A convivência ensejará que os dois seres, durante a trajetória (seja ela mais longa ou muito curta), estabeleçam laços de parceria e apoio, despertando sentimentos de amizade, de respeito e início de reconciliação pelo perdão, ainda que imanifestos.
Na erraticidade, terão que lutar contra o assédio mórbido que ainda tentará enredá-los nas mesmas tramas nefastas do passado, revivendo as tristes cenas de paixões incontroladas e de perseguição cruel. Dependerão de seus esforços, apoiados pelos espíritos familiares, simpáticos e socorristas, para que resistam às tentações de retrocesso e sigam o caminho da regeneração e do amor.
O Dr. Ricardo Di Bernardi entende que se a permuta de energias desequilibradas for muito intensa e em nível intelectu-al, ocorre uma profunda desarmonização dos centros de força perispiritual coronário de ambos. Tal fusão energética pode atuar como modelador de uma única cabeça para dois troncos (Y). Quando o desequilíbrio se prende mais aos sentimentos, haveria o envolvimento dos centros de força cardíaco e gástrico e aparece-ria,
então, os xifópagos de “Y” invertido ou letra Lambda.
Deduziríamos que, nos casos parasitóides, poderíamos estar diante de processos de vampirismo, onde a força magnética maléfica de um prevalece, impõe-se, invade e se implanta de tal forma no perispírito da vítima que o inibe, provocando atrofia física parcial. Nos casos de quistos e similares, pode se tratar de espíritos culpados, cujos perispíritos se encontram profunda-mente ligados por graves e seculares desequilíbrios que fazem tentativas de reencarnação, drenando, assim, mesmo que frustradas inicialmente, quantidade expressiva de energias extremamente negativas, além de poder estar servindo de expiação ou prova para a mãe.
De qualquer forma, é o poderoso vínculo nocivo entre duas mentes em desalinho que faz com que, na hora da divisão do zigoto, em vez de ocorrer a separação normal que daria origem a dois gêmeos idênticos, simplesmente se mantenham os dois embriões unidos.
O confrade Luiz Gonzaga Pinheiro, baseado nas informações de sua equipe de trabalho, em mais de uma vez afirma que casos de vampirismo e ódios intensos impõem, por vezes, o renascimento de corpos ligados, com possibilidade de o mesmo ser atenuado para gêmeos
univitelinos. Num deles, uma mulher grávida de antigo inimigo cometeu suicídio. Em outro, inimigos por três séculos e quatro encarnações, xifópagos em “Y” invertido, desencarnaram aos quatro anos de idade e ainda mantinham no plano espiritual a mesma aparência, tal qual um enxerto em vegetais: um amputado pelas pernas e acoplado no tronco do outro. O médium observa no perispírito do que não possui pernas a sombra destas, informa se tratar do corpo mental e que haveria, futuramente, uma cirurgia de separação de perispírito, a remodelagem do atrofiado e uma reencanação como gêmeos univitelinos.

O CASO DAS MENINAS MALTESAS

Analisaremos agora mais detida-mente o caso particular das meninas maltesas, não quanto às causas espirituais, mas com relação aos problemas éticos envolvidos e suas conseqüências.
Os médicos cometeram eutanásia e deveriam ter sido impedidos pela justiça? E esta pode prevalecer sobre o direito de escolha dos pais? E os espíritos, que não puderam opinar, como ficam? O que foi constrangido a desencarnar terá diminuído seus débitos ou poderá aumentá-los, devido à revolta?
Porém, antes de examinarmos o caso das meninas de Malta, vale acrescentar que, segundo o pediatra Percy Sandoval Ribera, de Joinville (SC), responsável pela equipe médica que faria a separação dos irmãos Lucas e Gabriel em 20 de fevereiro deste ano, a estimativa mundial para a ocorrência de nascimento de gêmeos com um ou mais órgãos ligados é de um para 14 milhões.
Quanto às suas causas, há muitas dúvidas científicas a respeito. Para a obstetra Ailena Franck, professora de histologia e embriologia da Faculdade Evangélica de Curitiba, a explicação mais aceita é a de que ocorra uma divisão tardia do ovo durante o início da multiplicação celular. Outros são da opinião de que o problema resida nos genes 130 e 150, que seriam defeituosos.
A incidência maior é na África, mas não por razões raciais, visto que, nos Estados Unidos, com elevado percentual de negros na população, são estatisticamente poucos os casos. O termo “siameses” surgiu com os gêmeos Chang e Eng, nascidos em 1811 no Sião, Tailândia. Falou-se até que indicavam o próximo final do mundo. Vendidos a um circo, casaram com mulheres diferentes e tiveram 22 filhos, morrendo aos 62 anos de idade.
No Paraná, tivemos alguns casos recentes. Há cinco anos, houve um caso em forma de “Y” (com duas cabeças) e as crianças morreram logo após o parto, em Curitiba. Estavam ligadas pelos pulmões, fígado e co-ração. Num dos outros dois casos desse período, em Umuarama, a ligação era pelo tórax e abdome e os gêmeos também não sobreviveram ao primeiro dia.




O TEMPO CERTO PARA SE SEPARAR

1- O óvulo duplamente fertilizado está preparado para gerar gêmeos, porém, até a primeira semana de vida, a massa embrionária não se divide.
2- A divisão em dois embriões ocorrerá entre o nono e o décimo segundo dia.
3 - Caso a divisão leve mais tempo, os fetos se desenvolverão grudados por algum membro do corpo.


POR QUE TANTA POLÊMICA?

Quanto ao caso das meninas maltesas, no qual a cirurgia de separação culminou com a morte de uma delas (fato dado como inevitável antes mesmo de ser realizada), temos a análise especialíssima dos fatores éticos. Não se pode fechar questão num raciocínio maniqueísta de que tal ou qual parte envolvida está totalmente certa ou não. Vejamos.
A família, católica praticante, foi contra a cirurgia, por entender que, na verdade, estaria se cometendo eutanásia, mas perdeu o direito de decisão porque os médicos recorreram à justiça. Podemos traçar um paralelo deste caso com a legislação brasileira quanto à doação de órgãos.
A lei em vigor determina que quem decide sobre a doação é o próprio paciente (quando em vida, natural-mente), devendo constar em sua carteira de identidade a condição de doador ou não. Na prática, porém, a última palavra tem sido da família.
Agora já há um projeto para alterar a lei, atribuindo o direito de decisão à família, situação vigente de fato. Outra situação é com relação à transfusão de sangue, não permitida pelos seguidores de certo segmento religioso. Houve casos em que a palavra dos médicos prevaleceu, em outros não.
Entendemos que cada caso é um caso, mesmo dentro de aparente igualdade de circunstâncias. Masquem pode julgar? A justiça, como no caso em foco? Mas as leis humanas podem se sobrepor às divinas? Por outro lado, até onde a religião, com suas diversas e nem sempre corretas maneiras de interpretação, pode se impor acima da razão e da ciência?
Por juramento, os médicos estão obrigados a salvar vidas. Pode-se argumentar que, no caso, é preferível salvar uma, ainda que com graves limitações futuras caso sobreviva,do que perder ambas.
Em O Livro dos Espíritos, questão 359, esclarecem-nos os autores que,em caso de risco de vida à futura mãe, é preferível sacrificar a do feto,“do ser que ainda não existe para preservar a da que já existe”. Na realidade,vida já existe desde a concepção,mas se completa no nascimento,pois o novo ser está ainda em formação. Talvez caiba aqui o raciocínio de que, sob risco de se perderas duas vidas, envidem-se os esforços para ficar pelo menos com uma.
Outro ponto a favor dos médicos no cumprimento de seu dever está na comparação com o caso do soldado que mata na guerra. Na questão 749 da obra citada, os espíritos respondem que o homem não é culpado quando constrangido pela força. E na 748, explicam que o mesmo se dá em qualquer caso de legítima defesa. Portanto, a nosso ver, os médicos estão isentos de culpa, visto que foram movidos pelo sentimento de dever profissional e mesmo humanitário.

FORMA DE REAJUSTE?

Independente da anormalidade, as crianças não dispunham da capa-cidade de exercício do livre-arbítrio devido à idade e não puderam opinar. Os outros decidiram por elas: uma vive, a outra morre. Mas quem pode adentrar às causas espirituais que enlaçaram dramaticamente corpos, vidas e destinos desses dois espíritos? Não teriam pedido talvez este sacrifício? Por que exatamente a vida de uma ficou tão a mercê da outra? Os poucos dias ou semanas que ambas permaneceriam ligadas não seriam a execução de uma decisão prévia e voluntária, cuidadosa-mente planejada para oferecer oportunidade de reajuste e colocar fim às querelas seculares?
O que representa tal intervalo de tempo de sofrimento físico diante da imortalidade do espírito? Ah, mas elas não têm consciência disso, pode-se alegar. Enquanto dentro dos vasos carnais talvez não, mas uma vez libertas pelo sono e, depois, pelo desencarne, têm-na totalmente. Como dissemos, as enfermidades em geral provêm do espírito, da mente em desequilíbrio e culpada, refletidas no perispírito. Para a completa liberação, precisam ser drenadas para a periferia da individualidade, o corpo físico.
A priori, portanto, não se pode julgar se, neste caso, os médicos e os juizes estão certos e a família errada ou vice-versa. O assunto dividiu a própria classe médica inglesa. O que fica de lição é que o homem não pode mais se privar de considerar a si mesmo como um ser composto de corpo, perispírito e alma. Enquanto insistir em ver só o lado somático, estará correndo grave risco de cometer equívocos de toda ordem. A vida espiritual, antes e depois da passagem terrena, tem que ser considerada, alargando-se a visão do nosso papel aqui na Terra.
As comunidades médicas, científicas e religiosas precisam debater, mas juntas, cada uma respeitando e procurando aceitar o que for justo na posição dos outros. Quanto à posição espírita, colocar-se-á ao lado da razão que ilumina e do sentimento que eleva, sem fanatismos ou pieguices. Lembremo-nos que, aos olhos de Deus, nada escapa, nenhum pensamento, nenhuma intenção. Ele indica a estrada, mas é o homem que deve aprender a caminhar.


Radiografia de gêmeos grudados

Artigos Científicos
Wilson Czerski - Publicado Originalmente na "Revista Cristã de Espiritismo" – Edição 13 – julho/agosto de 2001